24.10.06

As palavras

A profunda harmonia entre ela e o mundo - uma harmonia difícil, instável, porque ela insistia sempre em viver com rigor, com uma atenção que não afrouxava nunca, mesmo quando dormia - o rigor, por exemplo, com que domava ou desmanchava os sonhos, obrigando-se a lembrá-los, obrigando-os a saltar por dentro de arcos incendiados, as flores imaginadas formando finalmente um ramo, as flores de sombra, de sol, de areia, domar o vento, aprender a cavalgar o vento, pôr um risco de azul a contornar o mar, a dura acrobacia do seu corpo, ao mesmo tempo solto e geométrico, os difíceis exercícios interiores, os saltos mortais de olhos vendados sobre um fio de arame estendido entre o possível e o impossível.

Teolinda Gersão, Os Guarda-Chuvas Cintilantes, 1984

3 Comments:

Blogger antónio paiva said...

......embora haja formas diferentes de definir os sonhos, de os aceitar, de os deixar tomar-nos conta...... na verdade eu, acho que nos são impostos pelo nosso subconsciente, para nos proporcionar algum equilibrio.......


Beijinhos

P.S. sessão de autógrafos em Lisboa: Sábado dia 4 de Novembro, entre as 10 e as 13, na livraria Buchholz

October 24, 2006  
Blogger Ana said...

chuvamiuda,

És capaz de ter razão nisso: talvez existam (os sonhos) para nos dar equilíbrio.
Coisa de poeta: percebes logo à primeira!
Beijinho.
******
Vou dizer às minhas colegas, tuas fãs, sobre os autógrafos.

October 24, 2006  
Blogger Ana said...

pianola,

Porque não?
Se os neuróticos se sentirem melhor será sempre, em definitivo, mais económico do que andar no PSI...
:) :)

October 25, 2006  

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