21.1.07

Fragilidade














Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.

Carlos Drummond de Andrade
in A rosa do Povo

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

É sempre agradável recordá-lo!...
Afectuosamente

January 22, 2007  
Blogger Ana said...

Das coisas boas da vida, nunca nos enfastiamos.
É o caso dos poetas.
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E Viana do Castelo, sempre bonita?
A "taça", a Ana e o Fagundes nos mesmos lugares?
Da última vez que estive no Minho, bem recente, foi por outras bandas: Guimarães, Barcelos, Braga.

January 22, 2007  
Blogger Ana said...

Enorme, mesmo.
Intemporal, poeta, filósofo também.
Quanta sabedoria de vida!
Gente Grande.

January 22, 2007  
Blogger antónio paiva said...

...............

são as fragilidades que nos dão alguma piada

ficamos tantas vezes ridículos, nos nossos fatos de sueperiores e inabaláveis

................

Beijinho e boa semana

January 22, 2007  
Blogger Ana said...

chuvamiuda,

Fragilidades, todos as temos.
Até por debaixo dos fatos de superiores existem, creio. Escondidas mas nunca inexistentes.
Beijinho.

January 22, 2007  

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