22.4.08


Bastava-nos amar. E não bastava

Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar

a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.


J. Pessoa

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

magnífico soneto de joaquim pessoa!

April 22, 2008  
Blogger jorge esteves said...

Um belo soneto (que não conhecia, confesso!); uma excelência num momento que se diz para lembrar a Terra, outro de equinócio feito à mistura dos odores do iodo que são saudade...

abraços!

April 23, 2008  
Blogger antónio paiva said...

Aqui está um belo soneto, construído de forma pouco comum.

O autor é-me desconhecido, mais uma lacuna minha, mas tenho tantas.

O teu canto está muito bonito.

April 23, 2008  
Blogger sonia said...

esse sobrenome "Pessoa" deve ser especial aos poetas!

April 27, 2008  

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