22.1.07

Poeta exposto



















Deixaram-me só junto à porta do mundo,
poeta exposto, cantando-me a mim mesmo,
num dia de outono, há muito tempo já.
De um golpe seco arrancaram-me ao nada,
truncado de raiz,
com dois olhos abertos e um grito,
o fundo grito de quem sonhou ser pássaro
e não trouxe as asas para o voo.
Fui-me rodeando do mistério terrestre,
onde ainda não sei se vivo ou sonho,
e no fim a morte virá num torvelinho
que me arroje amanhã ante outra porta.
Não adivinho a minha origem, o meu futuro,
ainda que pelo sangue seja fiel às palavras
e possa jurar que quanto escrevo
provém como eu próprio de algo muito longe...
Poeta exposto, errando na intempérie,
o meu único pai é o desejo
e a minha mãe a angústia de ser órfão na terra.

Eugénio Montejo
In VOZ CONSONANTE
(Traduções de poesia por A. Ramos Rosa)

4 Comments:

Blogger pepe said...

Maravilhoso poema.

January 23, 2007  
Blogger antónio paiva said...

.................

gostei do poema

................

Beijnho bom dia

January 23, 2007  
Blogger Ana said...

pepe,

Escolho-os a meu gosto.
Agradeço a sua estimada visita.

January 23, 2007  
Blogger Ana said...

chuvamiuda,

Amigo, bom dia!
Beijinho.
Obrigada por teres vindo.

January 23, 2007  

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