Poeta exposto
Deixaram-me só junto à porta do mundo,
poeta exposto, cantando-me a mim mesmo,
num dia de outono, há muito tempo já.
De um golpe seco arrancaram-me ao nada,
truncado de raiz,
com dois olhos abertos e um grito,
o fundo grito de quem sonhou ser pássaro
e não trouxe as asas para o voo.
Fui-me rodeando do mistério terrestre,
onde ainda não sei se vivo ou sonho,
e no fim a morte virá num torvelinho
que me arroje amanhã ante outra porta.
Não adivinho a minha origem, o meu futuro,
ainda que pelo sangue seja fiel às palavras
e possa jurar que quanto escrevo
provém como eu próprio de algo muito longe...
Poeta exposto, errando na intempérie,
o meu único pai é o desejo
e a minha mãe a angústia de ser órfão na terra.
Eugénio Montejo
In VOZ CONSONANTE
(Traduções de poesia por A. Ramos Rosa)
4 Comments:
Maravilhoso poema.
.................
gostei do poema
................
Beijnho bom dia
pepe,
Escolho-os a meu gosto.
Agradeço a sua estimada visita.
chuvamiuda,
Amigo, bom dia!
Beijinho.
Obrigada por teres vindo.
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