Chuva civil
Diz-se que "chuva civil não molha militar".
Foi dentro dessa convicção que, depois de ter almoçado com pessoas amigas, fui a um bate-perna, para ajudar a digestão, ali para os lados do Saldanha e arredores.
Também já por aqui confessei como gosto de apanhar chuva, portanto, está tudo dito.
Acabei a minha digressão pedreste no Jardim Constantino onde, ainda há poucos dias, sem chuva, também vi algo que me deixou pensativa. Como já vi na Praça Paiva Couceiro, como parece que acontece no Jardim da Estrela, onde vou mais raramente, mas que a minha amiga F.T. costuma designar como o "jardim das p...... frias". São dezenas de homens, que passam tardes inteiras a jogar às cartas, nas mesas do jardim.
Também gosto de andar pelos jardins, sentar, olhar, apreciar.
Mas, isto que observo deixa-me triste.
Que País é este, onde os homens idosos gastam as suas tardes, sistematicamente, ao que me parece, nesta missão de fazer "passar o tempo"?
E as mulheres, as da mesma idade do que eles, que farão?
Não é este o País que eu queria, não era esta a ocupação que eu gostava de ver nos reformados de Portugal.
Se se lhe chama "a idade de ouro", porque lhe damos aspirações e/ou condições de lata?
7 Comments:
Julgo que não são dadas outras condições aos idosos e reformados porque quando se pensa neles é como mina de ouro para encher lares.
No fundo, a mentalidade dominante é tratá-los com sem utilidade, como os Gato Fedorento retrataram no sketch "Velhão".
No entanto, já que nada lhes é dado e pouco têm não vejo de uma forma negativa o facto de quererem continuar a relacionar-se socialmente em vez de se esconderem em casa, fazendo uma coisa que sabem e que para eles tem custo zero.
Agora como bem te lembras de apontar, as mulheres ficam em casa ou então participam num centro de convívio da igreja onde se lancha e se faz crochet e bordados para vendas de Natal.
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é!
mas também há muito acomodar e deixar andar
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Beijinhos e noite serena
Se calhar, Ana, não sabem de outra forma de "passar o tempo". O que é ainda muito mais triste.
Triste porque não lhes foram dadas, na sua grande maioria, oportunidades para saber que o mundo é muito mais belo que uma jogo de "sueca" e que estar ali sentado dias a fio e como estar, passivamente, no umbral da morte.
excelente questão!
ultrapassa o social, ultrapassa o racional, situa-se num limbo entre o irremediável e o incomensurável entre o desejo e a realidade.
quando comparamos a nossa sociedade com a de outros países da europa, onde a grandeza capitalista per capita, é diametralmente oposta à nossa, tendemos a referir essa grandeza como fulcro da diferença.
porem, esquecemo-nos de colocar um dado na equação. o desejo! a mola impulsionadora do objectivo.
perdemos essa força que nos motivou mais intensamente após a conquista da liberdade em Abril, mas rápidamente a perdemos.
as reformas sociais que se operaram naquela época e que apontavam uma entrada na velhice com alguma qualidade em termos de estruturas e apoios sociais, esfumou-se.
hoje observamos com pesar, que os nossos idosos, rejeitados como uteis ou capazes, apodrecem de um modo aleatório, num dos já poucos jardins da cidade, os quais, parece que de uma forma misteriosamente conivente, apodrecem com eles.
Solução?
só vejo uma, sinceramente. aquela que ainda nos resta possibilidade de operar.
frequentar os jardins, passear nesses espaços, convidando amigos, filhos, netos. preencher os jardins de vida, de sons, de risos, de corridas, torna-los vivos, para que essa vida se contagie a quem elege aqueles espaços, para palco dos seus derradeiros passos.
"perdemos essa força que nos motivou mais intensamente após a conquista da liberdade em Abril, mas rápidamente a perdemos."
As pressas dão sempre em vagares, lá dizia o velho Erodes...
O que o meu raciocínio foi: Ganhámos essa força, que nos motivou mais intensamente após a conquista da liberdade em Abril, mas rápidamente a perdemos.
O que a minha mão escreveu, foi uma patacoada diferente... desculpai.
"Se se lhe chama "a idade de ouro", porque lhe damos aspirações e/ou condições de lata?"
Esta tua frase diz tudo o que consideroo ser o mal desta questão. Nunca de uma forma tão genial e sucinta vi esta questão, que confesso, me incomoda, exposta.
É uma excelente questão, de uma pertinência incrivel e que teremos que ser nós a sugerir soluções.
A TODAS as pessoas que têm a bondade de me dispensar a sua atenção, lendo-me, agradeço.
A quem comenta, agradeço ainda um pouco mais. Enriquecem a ideia. Dão outros ângulos de visão.
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