Um frio
- E tu, Sara, porque choras? – Que tristeza é essa que te consome?
- Ando perdida de mim. Já não me conheço.
- Como assim? – Conheço-te eu. Conhecem-te tantas pessoas. Estimam-te.
- Conhecem um fantasma. O fantasma do que fui. Sou outra. Sou outras e não sei quem sou. Tenho uma idade na cabeça, outra no coração e outra na pele. O espelho mente-me. Não sou aquela pessoa que ele me devolve. O coração mente-me. Não sou aquela pessoa que ele finge animar. O pensamento mente-me. Não sou aquela pessoa racional e decidida que ele me quer impingir. Afinal, quem sou? – Restos. Restos destroçados do que fui. Naufrágio sem tempestade. Morte sem estertor. Grito sem som. Sou a senhora da agonia. Simplesmente. Delicada e suavemente caminhando na Terra do Nada.
(Extraído das folhas soltas, guardadas na escrivaninha)
8 Comments:
Belo, belo, belo. Boa noite Tia, bjinho.
Desabrocham
As folhas
A idade (que idade tinhas?)
Temos folhas, lâmpada que não se apaga...Gosto (já sabias...) Bjs
Imagem forte: "sou a senhora da agonia", aquela que é quem não aparenta ser para si mesma. O drama inverso de Dorian Gray, mas muito mais trágico, porque sem culpa, nem proveito.
Bonito e profundo. :))
E abrangente porque em alguma altura das nossas vidas somos a "senhora da agonia" (adorei esta imagem)como se desmontássemos um rádio e as peças não voltassem a encaixar.
....................
essa gaveta, essas folhas soltas
grandes tesouros
......................
Beijo e noite serena
Mesmo quando o sol brilha
Sinto a chuva e o frio
Invadirem o meu coração
Mesmo que as nuvens
Já tenham desaparecido
Fica a mesma sensação
Mesmo que me mostres
A razão para lutar
Já não tenho aquela força
Quando olho as minhas mãos
E penso em sobreviver
Sinto que o mundo é uma farsa
Mas mesmo assim os teus olhos
Mantêm-me a esperança acesa
De encontrar a paixão
E mesmo que digas que não
São os teus lábios que falam
E nunca o teu coração.
Boa dia Tia.
Quanto, quanto agradeço, que tenham a generosidade de achar que vale alguma coisa, aquilo que por aqui deixo escrevinhado!
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