15.5.07

Volta um Poeta

Em Lisboa com Cesário Verde

Nesta cidade, onde agora me sinto
mais estrangeiro do que os gatos persas;
Nesta Lisboa, onde mansos e lisos
os dias passam a ver as gaivotas,
e a cor dos jacarandás floridos
se mistura à do Tejo, em flor também,

só o Cesário vem ao meu encontro,
me faz companhia, quando de rua
em rua procuro um rumor distante
de passos ou aves, nem eu sei já bem.

Só ele ajusta a luz feliz dos seus
versos aos olhos ardidos que são
os meus agora; só ele traz a sombra
dum verão muito antigo, com corvetas
lentas ainda no rio, é a música,
o sumo do sol a escorrer da boca,
ó minha infância, meu jardim fechado,
ó meu poeta, talvez fosse contigo
que aprendi a pesar sílaba a sílaba
cada palavra, essas que tu levaste
quase sempre, como poucos mais,
à suprema perfeição da língua.

Eugénio de Andrade

4 Comments:

Blogger antónio paiva said...

................

Querida Amiga,

magnífica poesia sem dúvida!

desculpa a minha ausência, mas o tempo anda mesmo muito curto

...............

Beijinhos

May 16, 2007  
Blogger PintoRibeiro said...

Cesário, Eugénio, os poetas. Tanto basta.
Bjinho de boa noite.

May 16, 2007  
Blogger Ana said...

António,

Nada a desculpar, ok?
E eu não sei como o tempo, por vezes, é tão curto e por vezes tão longo?
Bem calculo a razão pela qual o teu tempo agora anda curto. Sendo uma boa razão, só posso ficar contente.
Beijinho.

May 17, 2007  
Blogger Ana said...

PR,

Os poetas, os filósofos, os ensaistas, os romancistas, os pintores, os escultores, os fotógrafos, os músicos...
Acima de tudo os Amigos!
Abraço para ti, Sónia e C.

May 17, 2007  

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