Amargo e doce
Na sexta-feira, tive o velório de alguém que cruzou a minha vida. Parente a quem, mais do que os laços de parentesco, me unia simpatia, amizade e gratidão. Homem mais “maduro” do que eu, que teve uma doença das assustadoras, tratou-a e, quando o médico disse à esposa dele que tinha marido para, pelo menos, mais cinco anos, faleceu de pneumonia.
Ontem foi cremado. Vi-o em cinzas, não me considerando, contudo, uma pessoa mórbida. O culto dos mortos, tenho-o apenas na memória e no coração. Respeito quem o tenha distinto.
Este é o lado amargo da questão.
O lado doce é que, enquanto eu tiver memória, o falecido estará aí presente. Como bom amigo, afável e jovial. Tinha casa em Portugal e tinha casa na Holanda, onde generosamente me acolheu e me fez de cicerone, a mostrar lugares bonitos, daquela terra onde criou o filho e lhe nasceram as netinhas.
Passou sob os jacarandás em flor e voltou, em pó, à Mãe-Natureza.
No dia em que o sopro da vida me deixar, gostaria que fosse assim: passar sob os jacarandás, ficar em poeira – que alguém, com carinho, deitasse ao mar, com uma flor.
Ontem foi cremado. Vi-o em cinzas, não me considerando, contudo, uma pessoa mórbida. O culto dos mortos, tenho-o apenas na memória e no coração. Respeito quem o tenha distinto.
Este é o lado amargo da questão.
O lado doce é que, enquanto eu tiver memória, o falecido estará aí presente. Como bom amigo, afável e jovial. Tinha casa em Portugal e tinha casa na Holanda, onde generosamente me acolheu e me fez de cicerone, a mostrar lugares bonitos, daquela terra onde criou o filho e lhe nasceram as netinhas.
Passou sob os jacarandás em flor e voltou, em pó, à Mãe-Natureza.
No dia em que o sopro da vida me deixar, gostaria que fosse assim: passar sob os jacarandás, ficar em poeira – que alguém, com carinho, deitasse ao mar, com uma flor.
9 Comments:
Bonito, Ana. Morre o homem, fica o amor, a doce lembrança que não morre.
...............
uma capacidade que nem todos possuiem
extrair a doçura nos momentos mais amargos
......................
Beijo e boa semana
JG,
É assim mesmo.
Há gente que deixa marcas inapagáveis nas nossas vidas.
António,
Meu amigo!
Se alguns conseguem vislumbrar doçura, outros há, com dons raros, que conseguem vislumbrar Poesia...
Eu sei de quem estou a falar. Tu calculas?
A morte é apenas um sono sem sonhos, dizem uns; um paraíso para quem é cativo, dizem outros.
A verdade é que desconfio! Se a morte tivesse algum bem, por que razão os deuses querem ser imortais?...
Ana querida, bem me parecia, à transparência da água e essa sede de beber cores neutras. Fica a recordação da amizade e, todavia, não é muito para os seres que considerámos especiais e bons. Deixo-te uma mão morna e amiga.
tinta permanente,
Fazendo fé no bom juízo dos deuses, a morte é um adeus - longo, longo. A imortalidade é um olá, cá estamos nós!
Mas há conceitos como o de imortalidade, eternidade, movimento perpétuo e outros similares que, na minha pequenina mente, andam associados ao adjectivo maçador(a)...
Talvez eu preferisse (esquesitice a minha!) a crença no renascimento, mas trazendo a sabedoria acumulada - ainda que pouca - de vidas anteriores.
:))
bettips,
A tua mão morna e amiga, retive-a, demorada, entre as minhas, como se pode fazer com a mão da nossa Mãe ou do nosso filho.
Porque há mãos que são delicadas, sensíveis, amorosas, incondicionais e, nem que estejam calejadas de trabalho, têm o toque de seda macia.
Um beijo.
Seria, isso, talvez, agridoce!...
Post a Comment
<< Home