31.12.06

Por aqui...

Na última tarde de 2006










e por ali:

São Torcato, situada na margem esquerda do Rio de Selho, a cerca de 5 km de Guimarães, é uma vila predominantemente rural detentora de um património natural e cultural que a tornam um dos potenciais turísticos do concelho.
............................................................................................
A vila de São Torcato possui também locais onde é possível observar testemunhos dessas tradições e da sua fé: o Santuário em granito, onde está depositado o corpo incorrupto de S. Torcato, a Capela da Fonte do Santo, Museu da Vila de São Torcato.

30.12.06

Pena de Morte


Enforcaram Saddam.
Quem com ferro mata, com ferro morre?
Será ainda uma verdade universal?
Tem justificação, por mais hediondos que sejam os crimes?
Só perguntas.
Nas respostas, faltam certezas, quando o assunto é desta natureza.
Dar vida e tirar a vida são coisas muito sérias, que nos levam à outra pergunta: de onde vimos, para que vimos e vamos para onde?

29.12.06

Ano Velho, Ano Novo













Que a todos nós, não nos falte a esperança.
Que acreditemos e nos esforcemos por um tempo melhor.

28.12.06

Quanto baste

















Aprender a simplicidade, todos os dias.

27.12.06

Serei assim tão transparente?

Perguntou-me alguém, depois de umas frases minhas - Serei assim tão transparente?
Acaso não somos todos transparentes?
Quando me sento num café, num transporte público, quando caminho pela rua, observo as pessoas à minha volta. É um hábito, nada mais.
Quantas, mas quantas vezes me deitei, mentalmente, a adivinhar os pensamentos, as preocupações ou as alegrias das pessoas com quem me cruzo?
Se pudesse tirar "a prova dos noves", acertaria mais de metade das vezes. Isto é uma convicção que tenho. Porque, no fundo, somos mesmo transparentes. Somos, efectivamente, todos diferentes, mas todos tão iguais, no essencial.
Quando se trata de alguém nosso conhecido, melhor ainda, nosso amigo, então a visão à transparência cresce, torna-se quase clarividência.
Agora, depois de ter debitado aqui este paleio, só espero que ninguém me escreva a chamar-me Bruxa da Arruda!

All My Loving














Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true
And then while I'm away
I'll write home every day
And I'll send all my loving to you
I'll pretend that I'm kissing
The lips I am missing
And hope that my dreams will come true
And then while I'm away
I'll write home every day
And I'll send all my loving to you
..............................
Recordar os Beatles

26.12.06

Pastora






















Das emoções e dos sentidos.
Guardadora de sonhos e esperanças.
Pitonisa dos dias bons que o futuro há-de trazer.

Foto - http//www.uclm.es/profesorado/irodrigo/gal_fotos.htm

Essencial



É o que sabemos primeiro com o coração.

É o que dispensa palavras.

É o que nenhuma força tirará de nós.

É o que está no coração da rosa.

25.12.06

Dixit

Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. (...) Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.

(Antoine de Saint-Exupéry, in 'Cidadela')

**************************************************

A felicidade consiste em não seres feliz e que isso não te importe.

(Miguel D'Ors)
..............................................

Há pessoas que choram por saberem que as rosas têm espinhos; outras há que sorriem por saberem que os espinhos têm rosas.

(Autor desconhecido)
.................................................................................

O bem que fizemos na véspera é o que nos traz a felicidade pela manhã.

(Provérbio hindu)

Amanhã e depois há muito mais














Natais de todos os dias.
Que se nasça para a paz, a justiça, a concórdia, a partilha.


23.12.06

Noite de paz
















Que todas as noites sejam de paz!

Natal é estender os braços























fraternalmente.

Menina do Mar

.................................
No dia seguinte, logo de manhã, o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa encarnada muito perfumada. Foi para a praia e procurou o lugar da véspera.
- Bom-dia, bom-dia, bom-dia - disseram a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe.
- Bom-dia - disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, em frente da Menina do Mar.
- Trago-te aqui uma flor da terra - disse; chama-se uma rosa.
- É linda, é linda - disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.
- Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente. Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
...............
Sophia de Mello Breyner Andresen

22.12.06

Esculpi-te























Onde existes, agora?
Existes?

as palavras



na minha frente passa o vento

inteira a memória das palavras

e dos silêncios - taça

de águas apaziguadas -

passam os pássaros

de noite cúmplice

e as mãos

aplacadas hastes

sob a luz descendo

a prumo no peito

e passa o íntimo das rosas

Maria Albertina Mitelo

Fui mesmo

Devia ser o único adulto sem criança pela mão!

Solidão
















La solitude ça n'existe pas (Becaud)

*************
Car la solitude voyageuse est mon lieu, comme le lieu de l'innocence.

21.12.06

Tempo de anjos

E de disponibilidade?
Isto pretende ser um post natalício.
Mesmo sabendo que anjos caem todos os dias.


















Ora vencem as asas, ora fraquejam os pés de barro.

Beber em todas as fontes















Sim, as gaivotas, sim. Até no meio da cidade.
Pisar todos os areais, perder-se em todas as brumas, pousar em qualquer rochedo, sorver todos os luares.

Foto: Chuvamiuda

20.12.06

Invernos

















Podemos sentir o inverno debaixo da pele, lá onde ele queima, morde como um cão enraivecido.
Porém, através do olhar, é uma experiência mística, dominadora mas purificante.

Direi?

Algum dia te direi
onde começa o mar
que é onde as gaivotas habitam
te direi onde em setembro
a bruma se demora
nos meus olhos
e o silêncio se verte
sobre as vagas
te direi onde a minha sede
é onde se morre

**************

Não te direi
da névoa em meus olhos
De umas mãos frias da ausência
não te direi

**************

Que pássaros
que azul
que rios
me trazem a tua voz
à nudez excessiva das manhãs

Maria Albertina Mitelo
in Entre Pássaros e o Mar

Blue roses will blossom in the snow




















A rose by any other name... according to Greek Mythology, it was Aphrodite who gave the rose its name.

Horizontes













Lugares onde o olhar se distende e a alma fica leve.

Dos suspiros?















Porque, em Veneza, também se morre.

19.12.06

Ainda um poema

Antes que chegue o inverno
e o vento leste trespasse os umbrais
e inunde de sombras os nossos corpos
e gele a nossa face
e cale a nossa espera
teu lúbrico canto ergue
celebrando incertas estas margens
dessangradas veias

E morre
morre então
num crescendo de seiva deiscente

Maria Albertina Mitelo
in Entre Pássaros e o Mar
Eu só quero intacto o silêncio
a nudez apaziguada da alma
as margens tácitas do teu corpo

idem, ibidem

18.12.06

Quem abriria




















Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?
Sempre que pode
foge prá rua
cheira o passeio
e volta para trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva desesperada.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.

Quado abro a porta corre para mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento, vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase, ronronando.

Repito a festa,vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas, cerra os olhos, abre as narinas,
e rosna, rosna, deliquescente,abraça-me e adormece.
Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?

António Gedeão

Embala-me















Embala-me nos teus braços de água.
E quando eu tiver descansado, quando a minha alma fôr só serenidade, traz-me de volta à praia, feita búzio.

O Que Tinha De Ser


















POR QUE FOSTE NA VIDA
A ÚLTIMA ESPERANÇA?
ENCONTRAR-TE ME FEZ CRIANÇA
PORQUE JÁ ERAS MEU
SEM EU SABER SEQUER
PORQUE ÉS O MEU HOMEM
E EU TUA MULHER

POR QUE TU ME CHEGASTE
SEM ME DIZER QUE VINHAS?
E TUAS MÃOS FORAM MINHAS COM CALMA
POR QUE FOSTE EM MINH'ALMA
COMO UM AMANHECER?
PORQUE FOSTE O QUE TINHA DE SER
Tom Jobim

16.12.06

E florescem no Outono

















a sonhar com primaveras?

Como são tristes























as portas fechadas

15.12.06

IVG e Referendo - opinião alheia

.......................................
Já a reflexão que avança que só as mulheres deveriam votar neste assunto tão.... "feminino"... essa deixa-me (outra!) num misto de repúdio e de profunda maturação intelectual. O argumento deixa-me sempre confuso. Por um lado assiste-lhe a razão lógica e natural de serem 'elas' que transportam o feto até ao nascimento, e, por vocação animal e tradição cultural lhe asseguram os cuidados primários de sobrevivência após o nascimento, até mais além da óbvia amamentação.Por outro há o meu velho complexo de macho que refila e reclama por, a exemplo na lei em vigor e na projectada em discussão, a sua opinião ser desvalorizada e até ignorada, reduzindo-o(-me) ao, então, incómodo papel de 'macho reprodutor', uma espécie de barrasco que após ter cumprido o seu papel inseminador é levado de volta ao curro e nada mais risca no assunto. É desagradável, roça o ofensivo.O sexo humano é essencialmente um acto de amor entre dois seres, o macho e a fêmea. Há cio mas também há sentimentos. Para decidir sobre o destino irreparável do ocasional fruto desse acto de amor uma das partes é liminarmente afastada. Como se ela não pudesse nutrir sentimentos especiais sobre esse gérmen de vida, um 'feto' que, tudo a correr naturalmente bem e de acordo com leis animais naturais, daí a meses ele o olhará e chamará de seu filho. Isso não conta para nada nessa tal posição de exclusivamente a fêmea grávida decidir, de só as mulheres votarem. Isso magoa-me para além da potencial racionalidade do argumento..."

Retirada dali
Sem autorização, mas com a devida vénia.

Branco e bruma

















Imagem dali

Citando

O sal da terra

Desconfia daqueles que veneram. Expulsa de tua soleira os devotos. Não admitas a teu convívio os lábios reverenciais. Com as giestas da última primavera (eram abundantes, lembras-te?), arma a vassoura que trarás sempre contigo. Busca o desprezo, de ti e das coisas, com a mesma infinda minúcia com que outros apenas se buscam, na composição confusa de seus ecos.
......................................
O POEMA

O poema é um exercício de dissidência, uma profissão de incredulidade na omnipotência do visível, do estável, do apreendido. O poema é uma forma de apostasia. Não há poema verdadeiro que não torne o sujeito um foragido. O poema obriga a pernoitar na solidão dos bosques, em campos nevados, por orlas intactas. Que outra verdade existe no mundo para lá daquela que não pertence a este mundo? O poema não busca o inexprimível: não há piedoso que, na agitação da sua piedade, não o procure. O poema devolve o inexprimível. O poema não alcança aquela pureza que fascina o mundo. O poema abraça precisamente aquela impureza que o mundo repudia.

A ESTRADA BRANCA

Atravessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto
folhas tremiam
ao invisível peso mais forte.
Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate

José Tolentino Mendonça

14.12.06

Dias com rumo















Há o tempo em que acreditamos num rumo e fazemo-nos coragem e força para seguir por aí.
E há o tempo em que nos sentimos esgotados e vamos ao sabor da corrente.
De variados tempos se fazem os dias de uma vida!

13.12.06

Que eu morra














"devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes…"
Como se diz aqui, citando José Gomes Ferreira.

Que eu viva















só o tempo em que tiver vontade de conhecer e aprofundar.

12.12.06

Branco e verde

















Porque preciso de cores.

Lisboa, Tejo e tudo



















Lisboa, banho de luz.
Dois olhares sobre o mesmo lugar.

Como bagas vermelhas, apenas

11.12.06

Never Land

"When the first baby laughed for the first time, the laugh broke into a thousand pieces and they all went skipping about, and that was the beginning of fairies."

















"Every time a child says 'I don't believe in fairies' there is a little fairy somewhere that falls down dead."

From Peter Pan
J. M. Barrie (1860-1937)

Poesia, vício meu

Herberto Helder

É a labareda da seda sob os dedos transmitida
ao corpo todo, seda extraída ao segredo
- tocar e ser tocado, sentir em si
a ligeireza do fogo, a profundeza,
e estremecer, ficar em chaga:
e com dedos e sedas manter as labaredas,
entre terror e louvor, a comburente,
combustível composição de tudo:
ser queimado vivo, ser luminoso.

(poema publicado em "Uma prenda para Eugénio com algumas túlipas", Edições Asa)

Quase a chegar o Natal

E, a mim, nem me apetece que seja Natal.















A parte consumista de dar e receber prendas, não me interessa. A magia das prendas é das crianças e não tenho disso ao meu redor.
Mesmo como festa de família, é sempre a doer, ver crescer o número dos ausentes.
Natal só faz sentido para os privilegiados a quem foi concedida uma fé que lhes permita fazer, em si mesmos, uma renovação diária, no sentido evangélico de "endireitar os caminhos do Senhor".
Mas há, igualmente, quem o faça, sem sentimento religioso, sem ser em tempo de Natal, porque isso faz-se quando um homem quiser.

10.12.06

Morrem, também eles


















Os todo-poderosos, os carrascos, os verdugos, morrem.
Hoje morreu mais um, idoso, no seio da família, como não morreram muitos outros homens e mulheres cuja sentença de morte ditou.

Acreditar no Sermão da Montanha
























"Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus. "

7.12.06

Beira-Tejo

BFS.
Sem mais palavras.



Faz bem olhar

Há momentos em que faz bem olhar para as coisas simples e boas.
Sentimos necessidade de aproximação ao que nos parece básico, essencial, depurado, justo. Faz bem saber que poucas coisas nos são essenciais, faz bem aprender o despojamento. Faz bem aprender a alegria da partilha. Não há disso melhor símbolo do que o pão. Adoptado como alfaia religiosa até, por tão expressivo.

6.12.06

Letra para um Hino

É possível falar sem um nó na garganta.
É possível amar sem que venham proibir.
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.
É possível andar sem olhar para o chão.
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetece dizer não, grita comigo: não!
É possível viver de outro modo.
É possível transformar em arma a tua mão.
É possível viver o amor.
É possível o pão.
É possível viver de pé.
Não te deixes murchar.
Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre, livre, livre.

Manuel Alegre, O Canto e as Armas

Não tem idade











A ternura, a doçura do olhar, o calor do sorriso.
Eu sei disto: tenho uma avó.