30.11.06
29.11.06
Versos quase tristes
Trago no sangue o mistério
daquele resto de estrada
que não andei...
E era talvez ali
que eu ia ser feliz:
ali
que viriam as Fadas pra contar-me
os contos lindos das Princesas
e de Paláciose de Florestas
que ficaram por contar;
ali que havia de abrir-se
o tal jardim
com flores que nunca morrem
ou, se morrem, há-de ser
na pujança da frescura
por medo de envelhecer...
Mas não passei além da curva...
O meu alento
já dobrou o joelho desistiu.
E eu sei tão bem que há Glória que me chama
e que tudo que digo aqui, ou faço,
é só arremedar, adivinhar,
o que, pra lá da curva que não passo,
havia de fazer ou de dizer!
E eu sei tão bem
que sem tomar nas mãos a Glória apetecida
me não contento!...
- Por que é que tu és só pressentimento,
minha vida?
Sebastião da Gama, Serra-Mãe
daquele resto de estrada
que não andei...
E era talvez ali
que eu ia ser feliz:
ali
que viriam as Fadas pra contar-me
os contos lindos das Princesas
e de Paláciose de Florestas
que ficaram por contar;
ali que havia de abrir-se
o tal jardim
com flores que nunca morrem
ou, se morrem, há-de ser
na pujança da frescura
por medo de envelhecer...
Mas não passei além da curva...
O meu alento
já dobrou o joelho desistiu.
E eu sei tão bem que há Glória que me chama
e que tudo que digo aqui, ou faço,
é só arremedar, adivinhar,
o que, pra lá da curva que não passo,
havia de fazer ou de dizer!
E eu sei tão bem
que sem tomar nas mãos a Glória apetecida
me não contento!...
- Por que é que tu és só pressentimento,
minha vida?
Sebastião da Gama, Serra-Mãe
para onde caminhamos II?
Com o título mencionado acima, no blogue de alguém que me faz o favor de ser meu amigo, fala-se de duas notícias recentes: um homem de 57 anos molesta uma menina de 9 anos e um recém-nascido é encontrado num saco térmico, abandonado.
Nos comentários a esse post encontrei e, sem intenção de abuso de confiança, antes pela riqueza do testemunho, ouso reproduzir aqui isto:
Bom dia Amigo:
Eu vou dizer-te quem sou...Tenho 38 anos, e o que mais queria na minha vida era ter um filho...o que não será possível nunca, pois a vida "ofereceu-me" este NÃO.Ainda não aprendi totalmente a viver com isso... e quando vejo as situações de que falas...não consigo comenta-las...porque... "Deus dá nozes a quem não tem dentes"
...... e acho que sim...somos muito bem...
Desculpa o desabafo...
Nos comentários a esse post encontrei e, sem intenção de abuso de confiança, antes pela riqueza do testemunho, ouso reproduzir aqui isto:
Bom dia Amigo:
Eu vou dizer-te quem sou...Tenho 38 anos, e o que mais queria na minha vida era ter um filho...o que não será possível nunca, pois a vida "ofereceu-me" este NÃO.Ainda não aprendi totalmente a viver com isso... e quando vejo as situações de que falas...não consigo comenta-las...porque... "Deus dá nozes a quem não tem dentes"
...... e acho que sim...somos muito bem...
Desculpa o desabafo...
28.11.06
27.11.06
O Homem morre, a Obra fica
radiograma
Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar
Mário Cesariny
Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar
Mário Cesariny
26.11.06
Lichtenstein, Roy

Still Life with Crystal Bowl - 1973 (1972?)
Whitney Museum of American Art, New York
Arte Pop: dali, de JG
24.11.06
Em honra deste e de todos os Poetas
Em jeito de mimo a todos os que amam a poesia. 
Vidro Côncavo
Tenho sofrido poesia
como quem anda no mar.
Um enjoo.
Uma agonia.
Sabor a sal.
Maresia.
Vidro côncavo a boiar
Doi esta corda vibrante
A corda que o barco prende
à fria argola do cais
Se uma onda que a levante
vem logo outra qua a distende.
Não tem descanso jamais.
António Gedeão

Vidro Côncavo
Tenho sofrido poesia
como quem anda no mar.
Um enjoo.
Uma agonia.
Sabor a sal.
Maresia.
Vidro côncavo a boiar
Doi esta corda vibrante
A corda que o barco prende
à fria argola do cais
Se uma onda que a levante
vem logo outra qua a distende.
Não tem descanso jamais.
António Gedeão
23.11.06
Singelezas

Dir-se-iam passarinhos novos, aquelas histórias, a espalharem lírios, diamantes, estrelas, figurinhas de criança; alminhas sem malícia a rirem-se para a gente, uma orquestra a cantar, a natureza animada pelo talento, como a dar-lhe, a palavra humana, e saber a linguagem dos cisnes, dos salgueirais, dos bichos, das águas, das rosas e das crianças. Para ser ordenado contista cumpre fazer voto de singeleza; a santa, divina simplicidade: quanto mais para ser mestre, para ser Andersen, para ser único! É uma literatura, a dos contos, que brota do pensar nacional e do gosto fino e excepcional de um escritor; popular não o é, não se pode verdadeiramente dizer que o seja, senão pelo espírito geral, que a anime e rescenda dela.
Júlio César Machado, 1885
Sobre
Hans Christian Andersen (1805-1875)
22.11.06
Palavras da poetisa: Perdoai-lhes Senhor
As pessoas sensíveis
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
21.11.06
20.11.06
17.11.06
The departed - Martin Scorsese
Há dias vi aquele filme.
Esta imagem, copiada dali, lembrou-me a palavra "departed".
E lembrou-me uma questão que levantou Rodrigo Guedes de Carvalho, em "Mulher em Branco"...

E façam por ser felizes, porque hoje é sexta-feira.
Esta imagem, copiada dali, lembrou-me a palavra "departed".
E lembrou-me uma questão que levantou Rodrigo Guedes de Carvalho, em "Mulher em Branco"...

E façam por ser felizes, porque hoje é sexta-feira.
16.11.06
15.11.06
Hei-de voltar porque:
Ægroto dum anima est, spes est
***********************************
Ars longa, vita brevis
****************************
Tradução livre e directa, à minha maneira:
Enquanto há vida há esperança e
A arte é grande, pequena é a vida
***********************************
Ars longa, vita brevis
****************************
Tradução livre e directa, à minha maneira:
Enquanto há vida há esperança e
A arte é grande, pequena é a vida
8.11.06
Bastaria - Uma casa no campo

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais
(Canta-ma Elis Regina)
7.11.06
Fonte I - Herberto Helder
Ela é a fonte. Eu posso saber que é
a grande fonte
em que todos pensaram. Quando no campo
se procurava o trevo, ou em silêncio
se esperava a noite,
ou se ouvia algures na paz da terra
o urdir do tempo ---
cada um pensava na fonte. Era um manar
secreto e pacífico.
Uma coisa milagrosa que acontecia
ocultamente.
Ninguém falava dela, porque
era imensa. Mas todos a sabiam
como a teta. Como o odre.
Algo sorria dentro de nós.
Minhas irmãs faziam-se mulheres
suavemente. Meu pai lia.
Sorria dentro de mim uma aceitação
do trevo, uma descoberta muito casta.
Era a fonte.
Eu amava-a dolorosa e tranquilamente.
A lua formava-se
com uma ponta subtil de ferocidade,
e a maçã tomava um princípio
de esplendor.
Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento
perdeu-se e renasceu.
Hoje sei permanentemente que ela
é a fonte.
a grande fonte
em que todos pensaram. Quando no campo
se procurava o trevo, ou em silêncio
se esperava a noite,
ou se ouvia algures na paz da terra
o urdir do tempo ---
cada um pensava na fonte. Era um manar
secreto e pacífico.
Uma coisa milagrosa que acontecia
ocultamente.
Ninguém falava dela, porque
era imensa. Mas todos a sabiam
como a teta. Como o odre.
Algo sorria dentro de nós.
Minhas irmãs faziam-se mulheres
suavemente. Meu pai lia.
Sorria dentro de mim uma aceitação
do trevo, uma descoberta muito casta.
Era a fonte.
Eu amava-a dolorosa e tranquilamente.
A lua formava-se
com uma ponta subtil de ferocidade,
e a maçã tomava um princípio
de esplendor.
Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento
perdeu-se e renasceu.
Hoje sei permanentemente que ela
é a fonte.
6.11.06
Ou converto-me à poesia
agora não
o tempo que espere
que agora não posso
quedei-me aqui a ouvir o mar
soltei-me aqui porta esquecida
morada liberta de coisas sérias
estendido no dorso da preguiça
teimosamente a ignorar adormeci
António Paiva
in juntando as letras
Edições Ecopy
o tempo que espere
que agora não posso
quedei-me aqui a ouvir o mar
soltei-me aqui porta esquecida
morada liberta de coisas sérias
estendido no dorso da preguiça
teimosamente a ignorar adormeci
António Paiva
in juntando as letras
Edições Ecopy
3.11.06
Faço eco dum recado
compondo
um abraço, um laço
um acorde no espaço
sinfonia de um beijo
um sentir
o desejo um compasso
a paixão uma pauta
amar é piano
orquestra, concerto, ovação
antónio paiva
(em 2 Nov. 2006)
É com este meu poema que vos digo:
Para quem estiver comigo amanhã na Livraria Leitura no Porto: até amanhã.
Para quem estiver comigo no Sábado na Livraria Buchholz em Lisboa: até Sábado.
um abraço, um laço
um acorde no espaço
sinfonia de um beijo
um sentir
o desejo um compasso
a paixão uma pauta
amar é piano
orquestra, concerto, ovação
antónio paiva
(em 2 Nov. 2006)
É com este meu poema que vos digo:
Para quem estiver comigo amanhã na Livraria Leitura no Porto: até amanhã.
Para quem estiver comigo no Sábado na Livraria Buchholz em Lisboa: até Sábado.